Especialistas analisam os riscos de uma possível ‘bolha da IA’ no mercado

A inteligência artificial generativa atraiu trilhões de dólares em investimentos – incluindo do governo dos Estados Unidos – e fez disparar o valor de mercado de empresas como Nvidia e Microsoft. Junto desse crescimento vertiginoso, ressurgiu um antigo temor do mercado financeiro: a formação de uma bolha econômica.

O assunto ganhou ainda mais força nas últimas semanas após Michael Burry, investidor famoso por prever a crise de 2008, fazer apostas contra o setor.

Afinal, o que é uma bolha?

No mercado financeiro, o termo ‘bolha’ se refere a preços que vão além dos valores elevados e se tornam irracionais. Ela ocorre quando o valor de mercado de um ativo se desconecta completamente da realidade de seus fundamentos econômicos, impulsionado por um comportamento de manada.

‘Basicamente, quando o preço dos ativos não reflete os fundamentos da economia e o fluxo de caixa’, explica Ricardo Hammoud, professor do MBA da Fundação Getulio Vargas.

Para entender se uma ação está cara ou barata, investidores projetam para o valor presente quanto aquela empresa vai gerar de dinheiro no futuro. O problema da bolha surge quando essa expectativa de lucro futuro se torna exagerada e desconectada da capacidade real da empresa de gerar receita.

‘Quando o valor desses ativos começa a se distanciar muito do fluxo de caixa esperado futuro, a gente fala que estamos numa bolha prestes a estourar’, detalha Hammoud. O grande desafio, segundo o economista, é que o mercado raramente sabe que está dentro de uma bolha até que ela exploda, pois tudo é baseado em expectativas.

O fator Michael Burry

Neste cenário de incertezas, Michael Burry apareceu e jogou mais lenha na fogueira. O investidor ganhou notoriedade mundial após ser retratado no filme ‘A Grande Aposta’ (The Big Short), por lucrar ao prever o colapso do mercado imobiliário dos EUA em 2008.

E, nas últimas semanas, Burry voltou a causar alvoroço ao mirar na IA. Sua tese, apoiada por análises de sua antiga gestora Scion Asset Management, é de que a receita gerada pela IA ainda é pequena demais para justificar os gastos massivos em infraestrutura.

Ele realizou apostas contra a Nvidia e a Palantir, sugerindo que o mercado está repetindo erros do passado ao precificar um crescimento que pode demorar a chegar.

Entre os dias 3 de novembro e 3 de dezembro, o preço da ação da Nvidia caiu aproximadamente 13%, e da Palantir cerca de 17%. Vale ressaltar que a queda não se deve, apenas, às apostas de Burry.

Diferenças cruciais em relação ao passado

Apesar da atual preocupação com uma bolha da IA, a comparação com bolhas anteriores, como a das empresas de internet (‘pontocom’) nos anos 2000, encontra divergências nos dados atuais.

O estrategista de Ações Internacionais do Banco BTG, Vitor Melo, aponta que a saúde financeira das empresas de tecnologia hoje é muito superior. ‘Naquele momento [anos 2000], as empresas de tecnologia negociavam a 89 vezes os lucros futuros. No momento atual, essas empresas negociam a 29 vezes’, afirma Melo.

Um exemplo claro é a Nvidia. Embora suas ações tenham subido meteoricamente nos últimos três anos, seus lucros subiram ainda mais rápido.

‘A empresa saiu de US$ 300 bilhões de valor de mercado para US$ 4 trilhões. O mais interessante é que o lucro multiplicou por mais do que isso’, explica Melo. Isso significa que, proporcionalmente ao que lucra, a Nvidia está ‘mais barata’ hoje do que em sua média histórica.

O paradoxo da antecipação

Outro ponto levantado por Melo é um paradoxo comportamental: bolhas geralmente pegam o mercado de surpresa. Se todos estão falando sobre ela, é menos provável que ela exista da forma devastadora que se imagina.

‘Um dos pré-requisitos para que uma bolha exista e aconteça é justamente a não antecipação por parte do mercado’, diz Melo. Ele cita que 54% dos gestores globais já consideram estar em um ambiente de bolha, o que gera uma cautela que, ironicamente, ajuda a prevenir o estouro.

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