Imagine executar uma atividade que normalmente levaria 9 horas em apenas 20 minutos? Essa é uma das promessas do CoCounsel Core, o assistente de inteligência artificial da Thomson Reuters desenvolvido para departamentos jurídicos, que busca liberar ‘horas faturáveis’ dos advogados.
O sistema chegou recentemente ao Brasil, resultado de um investimento anual superior a US$ 100 milhões em IA para criar chatbots e outras soluções voltadas a profissionais de setores específicos.
Rodrigo Hermida, vice-presidente de Legal Professionals para a América Latina, ressalta que o Brasil apresenta um volume e grau de complexidade elevados comparado a outros países da região. Isso faz com que grande parte do tempo dos advogados seja dedicada a trabalho manual e repetitivo.
Na avaliação do executivo, atividades como elaborar resumos e análises, extrair dados, esboçar documentos, entre outras, podem ser facilmente realizadas por ferramentas de IA. Dessa forma, é possível ‘liberar’ um ‘tempo valioso’ para focar em atividades mais estratégicas.
Parte dessa promessa está nas funcionalidades do CoCounsel Core para buscar, analisar e comparar informações e documentos. Com interface similar ao ChatGPT, é possível anexar arquivos e enviar comandos para buscar cláusulas específicas de contratos, por exemplo, e recebê-las em texto contínuo ou até em tabelas comparativas.
Hermida destaca, com base no uso diário de clientes, que há tarefas com duração de sete a nove horas sendo finalizadas em apenas 20 minutos com a tecnologia. Afinal, não é necessário ler documento por documento para encontrar detalhes, montar resumos, e similares.
Em vez disso, basta anexar os arquivos, preparar o comando com a solicitação desejada, e enviar. Depois, como em outras IAs, a solução gerará a resposta após analisar os dados inseridos.
Essas informações ainda podem ser utilizadas posteriormente não apenas para consultas, mas para preparar minutas de contratos, petições, cartas e afins. Também é possível estruturar elementos gráficos, como linhas do tempo, para auxiliar equipes no trabalho cotidiano.
Além do tempo, o executivo ressalta que a solução reduz o risco de erro humano, uma vez que há menos desgaste da equipe na rotina operacional.
‘Se você precisa ler diversos documentos de centenas de páginas cada para extrair a essência do contrato, próximos passos, prazos, e mais, o risco humano é alto’, exemplifica. ‘Não porque a pessoa vai cometer um erro, mas porque fica cansada após tanto trabalho.’
Prevenção contra alucinações
Apesar de facilitar o trabalho diário, plataformas de IA generativa não são totalmente confiáveis. Desde o lançamento do ChatGPT e de outros aplicativos, como Gemini, Perplexity e Claude, há registros de erros em respostas sobre notícias, pessoas e até alimentos.
Esse fator se torna ainda mais crítico ao considerar o uso profissional, especialmente em áreas sensíveis como a jurídica. Nesse contexto, o vice-presidente da Thomson Reuters explica que algumas preocupações foram consideradas para evitar episódios de ‘alucinação’ e outras falhas em potencial.
Além de uma equipe interna de advogados e especialistas que realizam testes e ajustes periódicos na ferramenta, o treinamento conta com uma curadoria de dados feita pela própria empresa. Clientes ainda podem integrar seu repositório de documentos, a fim de ‘especializar’ o CoCounsel Core nas necessidades do dia a dia do escritório.
A gerente de produto Patrícia Garro também destaca que há uma camada extra de configuração de comandos para ‘bloquear’ respostas que apresentem fenômenos de alucinação ou criação espontânea. A ideia do ajuste é impedir retornos fora da documentação ou da informação que o usuário forneceu no comando.
As notas de rodapé integram a lista de recursos para garantir mais segurança aos usuários. Nesse caso, o chatbot fornece um link que abre o documento usado como fonte e mostra o local exato de onde a informação foi extraída.
‘Isso facilita que o cliente faça essa verificação, essa assinatura final, para confirmar: ‘não, de fato essa informação é verídica, de fato toda essa análise está respaldada na documentação que eu forneci para a plataforma”, disse Garro.
O CoCounsel Core, cabe ressaltar, atua apenas como um assistente. Assim, de maneira similar a outras plataformas semelhantes, o advogado ou juiz é sempre o responsável pelas decisões finais.
Essa visão também foi compartilhada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, em uma palestra no Web Summit Rio sobre o uso de IA no tribunal. Na ocasião, ele destacou que ‘o juiz vai ser sempre responsável pela decisão’ ao utilizar sistemas de inteligência artificial, ressaltando a importância de confirmar as informações antes de usá-las.
GPT-5
A similaridade com o ChatGPT vai além da interface: para processar e fornecer informações, a plataforma da Thomson Reuters utiliza a API da OpenAI, com acesso ao GPT-4o, GPT-4.1 e o GPT-5. ‘A ideia é migrar toda a atividade para o GPT-5, que é o que temos de mais novo hoje’, afirmou a gerente de produto.
Esses modelos operam ‘nos bastidores’ da ferramenta, e em conjunto conforme as necessidades para oferecer melhores soluções para leitura, geração de textos, e similares. A ideia é que a escolha da tecnologia ocorra de maneira transparente e automática, para que o usuário se preocupe apenas com sua atividade, e não em selecionar a ‘melhor IA’.
Para garantir mais segurança, especialmente ao considerar que muitas das informações trabalhadas são confidenciais, o CoCounsel Core não retém dados para treinamento. Nesse caso, os arquivos anexados são enviados apenas durante o uso do aplicativo, sem retenção para aperfeiçoamento.
A plataforma, no entanto, está disponível apenas para clientes corporativos.
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